Mais antecipada e aclamada do que nunca, Breaking Bad retornou no último domingo (dia 11) para os 8 episódios finais que prometem dar desfecho a trama de um dos maiores e melhores anti-heróis da história da televisão, Walter White. Obviamente, uma carga avassaladora de expectativas foi conferida a este retorno (ainda mais considerando o cliffhanger deixado por Vince Gilligan no ano anterior), o que torna ainda mais extraordinário o fato de que a série tenha conseguido não só concretizá-las, como também excedê-las.

Trazendo um prólogo que consegue deixar qualquer telespectador com o queixo ao chão já nos primeiros cinco minutos iniciais, "Blood Money" inicia com a tão aguardada continuação dos fatos que abriram o quinto e último ano da série, compondo assim mais um "flash foward" do que aparenta ser o destino e também a ruína de Walter White, assim como do império que este construiu fazendo uso do pseudônimo Heisenberg.

E é assim que, sem dizer uma palavra sequer, o roteiro de Gilligan consegue logo de cara atirar seu público em meio a um cenário caótico de informações surpreendentes e até chocantes. Por todo lado, vemos avisos da prefeitura de Albuquerque alertando para que se mantenha distância do local, o nome Heisenberg 'decora' a parede da sala de estar da família White e um espelho quebrado, sabiamente utilizado pela direção de fotografia, consegue explanar perfeitamente a imagem desprezível que Walter adquiriu ao ser revelado ao mundo como traficante.


Melhor do que tudo isso é a rima narrativa que Gilligan cria ao mostrar Walt cumprimentando a vizinha Carol (que em absoluto choque deixa um saco de laranjas cair no chão), para minutos depois fazer o personagem repetir o mesmo ato de maneira casual e sutil. Dessa forma, o roteiro confere a história um paralelo interessante no qual se torna visível que o único fator que diferencia estas duas realidades, o passado e o futuro, é Walter White. Ele é o reagente da reação volátil vista nestes flash fowards, a qual é perfeitamente figurada por Gilligan ao nos fazer comparar estes dois cenários. Se Walt é apenas Walt, temos um cenário ordinário. Se Walt é Heisenberg, temos um cenário caótico... temos o "break bad".

É então que a trama retorna para os dias atuais. E Bryan Chranston (diretor do episódio) faz questão de retomar os acontecimentos do ano anterior com um plano sequência no qual a câmara se aproxima lentamente do banheiro em que Hank se encontra, para imediatamente acentuar os diálogos ao fundo em que Walt, Skyler, Junior e Marie soam mais felizes do que nunca, nos fazendo sentir todo o peso da decisão de Hank.

O roteiro também faz questão de fazer Walter, em diversos momentos, aparentar ser o cara mais simpático do mundo sempre que diante de Hank - o que se reflete até mesmo no figurino do ator que carrega em todo o episódio tons claros. E assim vemos Walt se preocupar caridosamente com a saúde do cunhado quando este passa mal, se oferecer para dirigir por ele até sua casa, brincar de maneira afável com a filha Holly e até dialogar casualmente com os policiais. Um lobo na pele de cordeiro. Ou melhor, um Heisenberg em pele de Walter White.


Tudo isso, inclusive, só fortalece o grande clímax do episódio, que por sua vez é um show estrondoso de grandes atuações, não só da parte de Bryan Chranston, como também de Dean Noris. Inclusive, eu não duvidaria que esta cena fosse exibida durante o anúncio dos indicados a melhor ator de série dramática quando o nome de Chranston for anunciado na cerimônia de premiação do Emmy.

Blood Money, porém, não se trata de Walter ou Hank. Quem o intitula, de fato, é Jesse e o fardo que ainda se encontra encravado nos 2,5 milhões de dólares recebidos. Com isso, o roteiro de Gilligan consegue, mais uma vez, realçar o lado moral de Jesse, enquanto reforça o comportamento sociopata de Walter que não demonstra qualquer empatia pelo garoto. Ao contrário, Walt apenas o manipula na intenção de que suas ações não tragam consequências para o mesmo.

Em suma, "Blood Money" é tudo que gostaríamos de ver em um episódio de Breaking Bad e pelo qual valeu a pena aguardamos longos e dolorosos meses de hiatus. Ademais, a série nos mostra aqui que está pronta para partir, assim como Walter White, de modo implacável, destemido e surpreendente. Quanto a nós, só resta esperar que seu legado viva por décadas como promete o poderoso Heisenberg.

PS.: Quando Jesse estiver em meio a um grande melodrama e for incapaz de servir de alívio cômico ao episódio, podemos sempre contar com Skynny Pete e "Badger" para garantir as risadas do telespectador com seus debates apoteóticos sobre Star Trek.

Clique aqui para escutar o podcast em que discutimos este retorno de Breaking Bad.

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