A tortura chegou ao fim.

Não começarei este texto com o clichê de ressaltar a jornada que foi ver Dexter nos últimos 8 anos. Porque não me orgulho dela o suficiente para fazer isso. Ou melhor, me orgulho apenas dos quatro anos iniciais da série. Lembram? Quando Dexter costumava ser aclamada pela crítica e disputava junto a outros nomes monstruosos, como Breaking Bad e Lost, o cargo de melhor série da atualidade?

Quanto aos últimos quatro anos da série... ham... nem tanto assim.

É claro que, apesar do desgaste, meu carinho por Dexter ainda se manteve. E por isso torci para que ela tivesse, assim como com qualquer outra produção, um desfecho satisfatório, coerente e que compensasse pelos últimos e sofríveis anos que a série havia nos conferido. E esse talvez seja o motivo pelo qual me encontro neste momento procurando palavras para descrever ou justificar o que acabei de ver nesta hora final do drama da Showtime. 

Digo justificar porque, assim como um serial killer ameaçado de ir para a cadeira elétrica, esta series finale de Dexter precisa de um advogado para defendê-la. Não só pela falta de coerência, mas por soar como um final preguiçoso e raso para uma série que merecia muito mais. Ou que, ao menos, um dia mereceu.

Trazendo um Dexter que logo de cara parece ter finalmente encontrado o seu inesperado final feliz, "Remember The Monsters" já inicia nos fazendo questionar a verossimilhança de seu roteiro ao trazer uma Hannah que, embora fugitiva, não faz o mínimo de esforço para esconder sua identidade (a vaca nem sequer coloca uma peruca para disfarçar!) em meio a um aeroporto lotado. O que me faz acreditar que no universo de Dexter, a população inteira de Miami sofre de problemas de visão, já que nenhuma outra hipótese também explicaria o porque de ninguém ter visto o protagonista, em um momento posterior, deixar o hospital carregando o corpo da irmã.

Mas não nos apressemos. Antes disto, temos Deb (pobre Deb) no início de algo que viria a se tornar um dos desfechos mais degradantes e inadequados para uma personagem que poderia existir. Sendo levada por uma ambulância ao hospital na companhia de (homem-caveira) Quinn, ela se questiona se estaria recebendo de volta o pagamento pelos pecados que cometeu em um passado tenro. Dito isso, é interessante que o roteiro brinque com a ideia de Deb ter atirado em LaGuerta e agora esteja morrendo por vias semelhantes. Porém, o anti-clímax das sequências que antecedem a sua morte é tamanho que nem mesmo a premissa de criar um paralelo entre a morte das duas ex-tenentes pareceu aqui funcionar.

Ainda pior, é ver as tentativas falhas do roteiro de arrancar algumas lágrimas forçadas do público ao trazer flashbacks do período em que Dexter acabara de se tornar pai, responsabilidade a qual Deb faz questão de acentuar. Como eu queria me emocionar com tudo isso... Porém, as lágrimas nunca chegam. A catarse não vem. E a falta de uma talvez seja o grande motivo pelo qual essa series finale tenha sido o mix de estranheza e insatisfação que acabou se concretizando.

E assim, nós telespectadores, passamos frios como psicopatas por uma morte que, supostamente, deveria ser devastadora.

Essa bola de neve cresce ainda mais nos momentos seguintes, em que as decisões questionáveis de roteiro começam a se apresentarem. Dexter mata Saxon ciente de que quem só veria as filmagens seriam Batista e Quinn (o que aconteceu com o "don't get caught"?). Abandona o filho em um outro país com uma assassina e o Maradona (se o objetivo não era mais machucar ninguém, não vejo como abandonar seu filho não seja sofrimento maior para o garoto). Sobrevive a mais um sharkando, digo, a mais uma tempestade e ao alto mar milagrosamente. Sem contar o fato de Harrison "amar" Hannah e, não Jamie que cuidava do garoto 48 horas por dia.

Nem mesmo o último passeio no Slife of Life, em que Dexter despeja o corpo de sua irmã no mesmo local em que fez com outras centenas de assassinos (aonde está a dignidade nisto?) surte qualquer efeito no telespectador apático que, a essa altura, só se questiona se teria como piorar.

E tinha, o final silencioso e "aberto para interpretações" de Dexter é sem dúvidas um dos mais questionáveis que a série poderia nos apresentar diante de tudo o que construiu. Entendo que os roteiristas queriam subverter nossas expectativas, fugindo do óbvio "ele morreu no final", ou "foi preso", ou "viveu feliz para sempre". Mas não consigo enxergar um universo em que "Dexter: o lenhador" seja considerado um desfecho apropriado para uma série que um dia fora considerada genial. 

De fato, é preciso ter coragem para se encerrar uma série em linhas inconclusas. Algo com que certamente alguns fãs obcecados pelo psicopata mais amado de Miami não estarão satisfeitos e, que provavelmente fará com que estes desejem ver os roteiristas presos a mesas com plástico e fita adesiva sendo esquartejados impiedosamente. Repito, é preciso ter coragem.

Assim, após oito anos de altos e baixos, Dexter nos deixa no vazio do silêncio de seu raso capítulo final. No seu olhar, através da última tomada, procuramos identificar aquele personagem que há anos atrás nos fascinava por sua profundidade. Não encontramos. E antes dos créditos finalmente surgirem na tela, percebemos então que, na verdade, ele já havia há muito tempo sido substituído por um reflexo desgastado do Dexter Morgan que conhecíamos e adorávamos.

Notas finais:

- Alguém me diz, para que diabos serviu aquela história de Masuka e a filha?!

- Homenagem belíssima a Ringer nos momentos finais da finale, em que o chroma key nos faz querer chorar sangue.

- Hannah carrega seringas com tranquilizantes no bolso a todo momento? Ou só quando viaja?

- Me entristece ver que os roteiristas nem sequer se esforçaram para fazer qualquer ligação do episódio final com o piloto da série. O que a maioria dos finais de série costumam fazer.

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